Em que eu penso?

Na "porpoleta preta" que me fazia apanhar; na briga pra trocar de canal: ela querendo "Meu Pé de Laranja Lima", eu querendo ver o "Zorro". Eu penso no passarinho que perdeu as penas, mas não fui eu. Dos sustos que o mais velho lhe deu. Nos deu. Eu lembro que foi em sua casa em que pude brincar com minha primeira filha. Me lembro do barzinho rústico de rodas de madeira. Ir de Fuscão vermelho para Lagoa Santa, com o maluco que fazia você fingir passar mal pra poder descer na contra mão.
Ah, me recordo de carnavais em Nova Lima, de roubar milho na plantação. De vigiar seus namoros, de ser a primeira voz que eu ouvi quando nossa mãe se despediu do mundo.
Você, estivesse aqui, ia virar pra mim e dizer: "eu não lembro de nada disso! Não sei de onde você lembra de tanta coisa!" Sabe por que? Porque tudo isso foi importante pra mim. Construiu em minha alma aquele amor que, mesmo à distância, sobrevivia. E crescia.
Extratos de manga guardados em litros de refri. Horas passando no processador aquilo que seria bebido por muito tempo, pra manter acesa a chama da saudade da Rifaina...
Suas chamadas à razão sempre surtiam o efeito. E a última quase me matou de dor. E por causa disso não lhe pedi um perdão que você ouvisse. Não fui o irmão que você merecia. Perdão!
Mas, em que estou pensando? Ah, penso na irmã que se orgulhou das poucas conquistas que tive. A primeira a chegar no lançamento de um livro. E com um sorriso iluminou todo aquele evento.
Eu amo você. Não por hoje, por um minuto. Mas por toda a eternidade. E em breve, eu sei que vou ver de novo o seu sorriso. E receber num abraço seu aceite ao meu pedido de perdão.
Você está em paz... quem perdeu fui eu.


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