Estava matutando aqui, bem daquele jeito mineirim de ser: olhando pro vazio do espaço, só faltou o cigarrinho de palha. Tomei um longo gole de café e fui tentando voltar ao começo desse ano de 2020. Puxa vida, não conseguia ir além do Carnaval! Parece que o tempo parou ali, e então tudo se transformou num pesado silêncio. Uma falta completa e absoluta de presença. Um gigantesco espaço preenchido com ... solidão.
Dores, febres, tudo passou a ser crise. Pessoas morrendo de longe ainda nos dava a sensação de impunidade. Até que chegou em nossa cidade. Caminhou por nossos bairros, invadiu nossas casas.
E o que era notícia do outro lado do mundo passou a ser comentário na esquina. A morte chegou para conhecidos. Para amigos. Homens, mulheres, idosos ou não foram aos poucos sucumbindo diante de um vírus que, microscópico, se transformou em um Godzila avassalador.
Nunca assisti tanta televisão. Nunca me amedrontei tanto com a presença de pessoas. Fiquei pensando quantas vezes molhei com álcool minhas mãos, quantas vezes lavei-as! Foram mais vezes que uma vida, e mesmo assim o medo não passa.
2020 dá adeus com o silêncio gritando por tantas mortes. Aquelas detectadas em boletins oficiais e também as outras, que com certeza ocorreram e jamais estarão nas estatísticas.