Era um cara careca, mas os pelos do corpo eram abundantes. O rosto sempre sério disfarçava um humor fino em cada palavra ou gesto.
          Era um sujeito elegante, vaidoso; trazia, com orgulho, o terno e a gravata como marca registrada na maioria das vezes. Mesmo que meio amarfanhado às vezes, nem o desleixo causado pela idade lhe tirava o porte que impressionava... e arrancava suspiros - masculinos, de admiração, femininos, com alguma paixão.
         Era um articulador transparente, que talhava acordos pessoais ou políticos com coerencia. Não se abatia com dificuldades e acreditava na força das palavras. Ou na dos braços, se fosse preciso.
        Eu custei a perceber a mais valia desse homem que, entre os melhores era sempre o pior. Opção de vida, vai entender! Mas exatamente por estar entre os bons, o sábio sr. Peixoto se destacava por sua nobreza de caráter.
      Perdi tanto tempo brigando e discordando dele que, no instante em que percebi a sua importancia para a formação do meu próprio modo de vida, já era quase tarde demais. Os poucos anos seguintes me permitiram desfrutar de frases e atos que me marcaram para sempre. Me deram amadurecimento que 30 anos não foram capaz de me dar.
       Um certo senhor Peixoto me ensinou a importancia de uma família. O dever de um homem para com seus filhos. A valorização de bens imateriais como ética, civismo, honestidade; mostrou-me que me amava. E que, se era duro comigo é porque a vida não seria mole. Me ensinou que eu poderia ser feliz vendo a felicidade de quem eu amava. E que isso era muito mais gostoso do que simplesmente um bolo de notas no bolso de trás.
        "Seo" Peixoto. Meu pai. Uma saudade que não morre, um amor que não se aplaca. Uma imagem vívida em minha cabeça. E uma nostalgia gigante ao engrossar a voz e tentar imita-lo. Cantando no banheiro, no domingo varrendo o passeio, ou então só cantando para agradar a sua "Nilzia", seu amor eterno.
          Vai pai, a melhor frase que consigo pensar para lhe resumir não é minha: você foi meu herói, meu bandido. Muito mais que um amigo. E com sua ausencia me deixou cheio de lembranças carinhosas, e um sonho acalentado: esperar que um filho meu, que seja, receba de mim um quinto daquilo que você me ensinou.

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