Ele entrou no meio das caixas de sucata, filhote assustado e de lá não saiu por dois dias. Nem prá comer. Ficavam aqueles olhos pedintes lá do fundo olhando prá quem chegasse. E de lá não saia.
Foi ficando, e de repente, aqui está o rapazinho; rabo balançando e me seguindo onde quer que eu fosse. E assim foi dominando todos os meus dias. A me esperar abrir o portão da casa para seguir comigo onde eu fosse. Manhoso, matreiro, brincalhão e bagunceiro, foi minha companhia solitária por meses. Deitava na cadeira, dormia... caia! Olhava prá mim com cara: poxa, me machuquei! E eu ria! Me divertia ve-lo correndo atrás de calangos. Vigiando "nosso" pedaço. Espalhando a areia do vizinho que, mesmo prejudicado, fica feliz em mostrar o dog show para seus netos. Então, ele desapareceu...
Nem preciso dizer que a angustia dominou o peito... a saudade machucou. Mas...
Ele voltou; com fome, cansado e machucado. Voltou como se não fosse nada, nada tivesse acontecido. Voltou como se não nos deixasse por dois dias!
Ele chegou por volta das 10. Minha filha o abrigou e, imediata e surpreendentemente, atacou a ração como se nunca a tivesse comido. Nem respirava. Comia. E seu rabo torto balançando demonstrava a felicidade de nos ver ali, olhando quase sem acreditar. Os olhos estão tristes, mas aos poucos vai retomando o brilho habitual. Nem precisa explicar; ele havia sido impedido de voltar. Pedia carinho, como se fosse um pedido de desculpas, ao mesmo tempo que demonstrava a felicidade de estar entre nós.
Tufão voltou. E com ele a certeza de que mesmo sendo um animal conquistou nesse velho peito um pedaço importante. Entendo que ele faz parte de uma verdade absoluta: animais nos tomam por amor e reavivam diariamente nossa capacidade de dar e receber afeto, atenção, carinho.
Obrigado a todos que de alguma forma me confortaram todo o dia em que não o tive. Mas agora sei, de forma definitiva, que não sou eu o dono dele. Ele é o meu dono.
 

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