Carta à filha adolescente

            Não dá prá conformar vê-la crescer e se afastar. Mesmo sabendo que essa é a estrada da vida, e com ela convivemos com pedras e infortúnios, sempre fica a sensação de que algo não foi feito, no passo dado logo atrás.
           Ver uma menina sapeca virando mocinha e mulher é bom, dá o sentimento de continuidade, de satisfação que não finda, de esperança em ver nela o sucesso que você não alcançou. Em contrapartida, vem um peso de perda, aquele chumbo que nos prende ao chão ao sabe-la mais livre, independente e dona do seu próprio nariz.
          Saber das consequencias da paternidade, eu sei. Saber dos prazeres que ela dá também. E é claro para mim que não só tudo isso se soma para gerar uma responsabilidade enorme como cria dentro da gente um monstro egoísta que não quer soltar, porque nunca é a hora, nunca ela vai crescer!
         Queria lhe dar uma valsa de sonhos, em seus 15 anos. Uma festa inesquecivel, acompanhada de um anel de brilhante solitário, simbolizando todo o meu amor e minha vontade  em fazer seus desejos. Não sei se será assim. Mas, juro, vou me esforçar prá chegar perto.
         Porque, antes de ser uma menina cheia de espinhas e respostas ácidas, você é a luz de minha vida e sua "aborrescencia" não pode ser motivos para que eu me perca de sua alma. Eis que chega a hora de lhe mostrar o mundo com uma outra verdadeira face e, como tal, com suas asperezas e tristezas. Quero estar ao seu lado sempre, para que não veja lágrimas em seus olhos grandes, nem o célebre muchocho nessa boca linda. Ali vou estar para que isso não aconteça.
        E se por acaso não puder evitar, quero assim mesmo estar presente, para enxugar seu rosto e fazer umas "cosquinhas" prá forçar o seu sorriso.